Pacientes transplantados de medula óssea podem receber a vacina de COVID-19
“O ideal é que os familiares também recebam a vacina protegendo assim seus entes queridos”As vacinas para o Covid-19 disponíveis no Brasil, Coronavac e AstraZeneca, já estão sendo aplicadas em diversas regiões do país, porém muitas dúvidas surgem, principalmente para alguns grupos como os pacientes submetidos ao transplante de medula óssea (TMO).

Pedro Costa
Quem foi submetido a um TMO tem o sistema imunológico mais frágil pela própria doença e pelos tratamentos que receberam antes, durante (exemplo imunossupressores) e após o transplante tratando complicações adquiridas como a doença do enxerto contra o hospedeiro. Para o Dr. Roberto Magalhães, diretor do Grupo de Hematologia e Transplante de Medula Óssea (GHTN), a maior parte dos pacientes transplantados poderá receber as vacinas que são eficazes e seguras para o paciente hematológico. “A recomendação do EBMT (European Group for Blood and Marrow Transplantation – Grupo Europeu para Transplante de Sangue e Medula) é que três meses após o transplante o paciente pode ser vacinado. Não é aconselhável que ele receba a vacina no meio do transplante alogênico, onde as células precursoras da medula provêm de outro indivíduo (doador). Outro dado interessante e importante é que se o doador se vacinar ele deverá esperar 15 dias para doar medula e vale tanto para a primeira dose quanto para a segunda dose”, explica o médico. Para pacientes transplantados é preciso seguir um calendário específico de vacinas. Segundo o dr. Roberto, nesse caso o ideal é atrasar uma das vacinas para receber a da Covid-19. “Após quatro meses de transplante, o paciente tem um cronograma de vacinação que começa com a vacina da gripe, hepatite B, e por aí vai uma sequência que é feita naturalmente. Como estamos em meio à pandemia, a recomendação é que o paciente tome primeiro a vacina de Covid-19, pois não se deve tomar vacinas diferentes simultaneamente”, diz. Maria José Dinoá, foi tratada pelo grupo GHTN e teve aplasia de medula há quatro anos em remissão. Maria recebeu imunoglobulina e está com a doença bem controlada, porém, ela está na dúvida se toma ou não a vacina para Covid-19 e essa pergunta pode ser a de muitos outros pacientes. Para esclarecer, Dr. Roberto explica: “ela é uma paciente que está há muito tempo sem tomar timoglobulina, onde a imunoglobulina foi o tratamento dela e ela também está sem uso de imunossupressores. Conversei com ela e disse que a vacina é segura, é recomendada e que ela e os familiares dela podem fazer a vacina para prevenir o Covid”, conta Dr. Roberto. Uma discussão que vem à tona é se a família do paciente transplantado deve ou não receber a vacina de Covid-19. Como mencionado anteriormente na dúvida da Maria, para o médico, é ideal que os familiares recebam a vacina protegendo assim também seus entes queridos. “Muito mais que o medo da pessoa adquirir coronavírus pela vacina, o problema maior é ele não ter a resposta vacinal. As vacinas aqui no Brasil têm uma eficácia de 50 a 74% e pacientes hematológicos não montam uma resposta imunológica de defesa contra o coronavírus mesmo recebendo as duas doses.

A própria doença que a pessoa tem afeta o sistema imunológico, como por exemplo, o mieloma múltiplo, doença em que o transplante autólogo e feito com maior frequência, a pessoa não tem capacidade de produzir os anticorpos naturais para poder se defender”, esclarece Dr. Roberto que ainda faz um alerta: “não sabemos quanto dura a resposta imunológica da vacina, cuja eficácia não é de 100%. Não significa que a pessoa vacinada não possa vir a pegar o coronavírus e tampouco a gente deve afrouxar. As medidas de cuidado devem ser tomadas de maneira rigorosa por enquanto no Brasil. A máscara tem que ser usada, lavar sempre as mãos, usar álcool gel e manter o distanciamento social evitando aglomerações”.