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Cultura

A Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa e a Psicologia do “Caminhar”: uma questão de saúde mental

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Caminhar faz bem à saúde! Bora Caminhar?
Por ancestrais desígnios, a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa ocorre, anual e tradicionalmente, no mês morado desde 2015 de  setembro Amarelo, consagrado à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental.
Em nossa reflexão, que poderia ser intitulada “a dimensão psicológica profunda do Caminhar”, queremos articular o valor da Caminhada em defesa da Liberdade Religiosa sob as lentes da psicologia arquetípica do pos- junguiano James Hillman (1926-2011).
Cultivar uma leitura arquetípica da realidade exige ver mundo à luz do simbólico ou da alma. “Só se vê bem com o coração”.  Aconselha Leonardo Boff: é preciso escutar os arquétipos! E isso exige, segundo o teólogo, “dar atenção à voz de nossa  interioridade e criar espaço para que ela se manifeste”. Clementina de Jesus sabia disso , por isso cantou: “a vida não é só isso que se vê, é um pouco mais…”.
A pergunta fundamental do nosso texto é: qual é o valor psicológico ou simbólico do Caminhar?
Podemos, a partir do pensar de James Hillman na obra “A cidade e a alma”,  interpretar o Caminhar como trabalho da psique buscando a integração do humano e potencialização da saúde psíquica. Refletindo sobre o Caminhar relata sugestivamente Hillman: “No meu trabalho terapêutico com pessoas descobri que, em período de intensa desordem psíquica, elas naturalmente resolvem caminhar”. Escreve ainda o psicólogo americano: “Saímos para caminhar para dar um ritmo orgânico aos estados mentais depressivos”. Em estado de extremo medo ou pavor nossos pés tendem a paralisar. Sustenta ainda Hillman: “Há provavelmente uma cura arquetípica no caminhar, algo que afeta profundamente o substrato mítico de nossas vidas”. Então, sob o ângulo da psique profunda, Caminhar tem razões (ou motivações) que a própria razão desconhece. Essa afirmação tem extraordinário valor para o povo preto que, desde o passado do mundo, aprendeu a dizer no pé.

Não Caminhar é não ser; e nem pensamento. Não sem razão, “a cabeça pensa por onde os pés pisam”. Caminhar é conhecer. Pensamos e dizemos no pé! Considero, pois,  a reflexão sobre o Caminhar como necessária neste mês, conforme já dito, dedicado à saúde mental. Caminhar é uma narrativa humana por excelência; logo, psíquica. O ser humano que foi pensado como um ser exclusivamente racional (“penso, logo existo), é não menos um ser que caminha, um peregrino, um viajante, um andarilho – um caminhante. Essa verdade foi inscrita no mais íntimo do nosso ser e no mais profundo de nossos pés, desde o solo africano. Lá demos nossos primeiros passos. Na obra “Transcendência” o teólogo  Leonardo Boff lembra que “o australopiteco piticino, que era uma mulher, Luci, era uma mulher de transcendência”. E diz o teólogo: “Ela deixou as florestas da África e começou a andar na savana árida…”. Caminhar sempre foi preciso! Não podemos esquecer essa verdade: foi no ventre da Mãe África que começou a grande, perigosa e incerta Caminhada da humanidade.
Comenta com refinada ironia o historiador Joseph Ki-Zerbo: ” Se Adão e Eva tivessem aparecido no Texas, ouviríamos falar disso todos os dias na CNN”. Desse modo, quando a Comissão de Combate à Intolerância do Rio de janeiro (CCIR) fala de Caminhada, está, no subterrâneo, falando de conexão com nosso passado ancestral, e com nosso futuro também! No Caminhar, quando um pé vai para frente o outro fica para trás, na alternância esquerdo/direito. Hillman oferece uma leitura simbólica desse movimento, segundo a qual Caminhar conecta! Nessa altura de nossa reflexão poderíamos sustentar a formulação: Caminho, logo existo!
A tradição judaico-cristã fala de um Deus que ouviu o clamor do povo e desceu para caminhar com ele; fez-se companheiro de estrada – um caminhante. Tudo é caminho!

Há um ensinamento budista segundo o qual só completando a caminhada de doze dias de Kamakura a Quioto se pode contemplar a lua linda da capital. Quem desiste no décimo- primeiro, por exemplo, não pode ver a beleza da lua. A sabedoria budista ensina que é preciso – passo a passo –  completar a caminhada. Disse o Papa Francisco, diante da multidão, no dia de sua posse: “vamos fazer um caminho, bispo e povo…”. Todas as religiões não são, ao fim e ao cabo, caminhos? Fica evidente que não podemos pensar a vida sem o Caminhar. Lembro a bonita canção: “Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco, e o caminho se faz”. Em perspectiva Iorubá, Exu é a divindade dos caminhos, das encruzilhadas – o senhor dos mundos.
Hermes, o deus da comunicação na mitologia grega, tem asas nas sandálias dos pés. O malandro traz consigo a competência ancestral da caminhada noturna da alma. A cidade também caminha! Sustenta Bezerra da Silva: “malandro não dorme e nem cochila”. Somos – todas/todos/todes – andarilhos: caminhamos pra viver, e vivemos pra Caminhar! O perigo do Caminhar está naqueles e naquelas que só sabem andar sozinhos, porque se juntam maiores e melhores que os outros. Ensina Dom Hélder Câmara: “É possível caminhar sozinho. Mas, o bom viajante sabe que a grande caminhada supõe companheiros. Companheiro, etimologicamente, é quem come do mesmo pão”. E diz ainda o bispo vermelho: “O bom caminheiro preocupa-se com os outros”.
Em chave junguiana, no livro “A águia e a galinha”, Leonardo Boff pensa “o caminhante ou o peregrino” como  dimensão  necessária do ser humano na construção de si mesmo (herói/heroína). Escreve o teólogo: “É uma árdua caminhada”. A propósito, o próprio Jung lê o processo de individuação (“ser o que se é”) como uma caminhada –  “longuíssima via”. Pelo exposto, podemos dizer que o ser humano quanto mais caminha mais se humaniza. Caminhar é vital… É ancestral! O povo preto, forjado na encruzilhada, é perito no Caminhar. Encruzilhados atravessamos a calunga grande. Transformamos as madeiras dos tumbeiros em instrumentos de percussão. E isso é tudo! Lembra Antônio Simas que “encruzilhadas são perspectivas de mundo.
O professor e Babalawô Ivanir dos Santos exibe essa antiquíssima verdade quando sustenta, no livro e na vida, que “Marchar não é caminhar”. A marcha exige a domesticação e o enquadramento dos corpos (“quem não marchar direito vai preso no quartel”).  O Caminhar, ao contrário, reclama corpos inegociavelmente livres! Argumenta com propriedade James Hillman: “Andar acalma. Prisioneiros circulam no pátio, animais andam de um lado para o outro em suas jaulas, a pessoa ansiosa mede o chão com seus passos: esperando o bebê nascer ou as notícias da sala da diretoria. Heidegger recomendava o caminho na floresta para filosofar; a escola de Aristóteles era chamada ‘Peripatética’ – pensar e discursar enquanto se caminha; os monges andavam em seus jardins fechados. Nietzsche disse que só tinham valor as idéias que ocorriam do caminhar…idéias correntes, não idéias sentadas”.

Numa sociedade adoecida e movida por automóveis, computadores, tablets e celulares, talvez nossos pés (e nossas mentes) estejam reclamando um pouco mais de Caminhada. Caminhar é preciso!Recorda oportunamente Hillman: “No Egito antigo uma das principais convenções hieroglíficas para Bá, a alma, era a barriga da perna e os pés, a parte inferior das pernas como que dando um passo. A alma caminhava”. E o psicólogo deixa a pergunta: “quando não mais caminhamos, o que acontece com a alma?”. É hora de findar… Faço minhas as palavras de Abdias Nascimento: “… tenho muito a caminhar, muita encruza a farejar”. Termino, pois, o escrito sobre uma leitura psicológica do Caminhar firmando ponto, à partir de um umbandístico ponto,  que há poucos dias ouvi da boca ancestral da ialorixá Ofa (São Roque), quando amorosamente falávamos ao telefone: “Santo Antônio de Pemba caminhou sete anos… Mas, como caminhou… Santo Antônio de Pemba, como caminhou…”. Ora, se o Santo caminha, por que não eu?

Dedico esse texto ao queridíssimo e potente Babalorixá Pai Dário, ao futuro ancestral!

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Cultura

Vendas de ingressos para a temporada de “Quebra Nozes” no Auditório Ibirapuera com Cisne Negro Cia de Dança já estão abertas

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Ministério da Cultura e Natura apresentam

Temporada conta com patrocínio da Natura e presença dos brasileiros Aurora Dickie e Rafael Vedra, solistas com carreiras consolidadas na Alemanha

Entre os dias 6 e 15 de dezembro, o Auditório Ibirapuera, no icônico Parque Ibirapuera, será palco pelo segundo ano consecutivo de uma especial temporada de “O Quebra Nozes”, com 13 apresentações,  produzido pela tradicional Cisne Negro Cia de Dança. O espetáculo, que se tornou sinônimo de Natal em São Paulo, chega à sua 41ª edição, mantendo a tradição de celebrar as festas natalinas por meio da dança e da belíssima música de Tchaikovsky. Desde sua estreia, mais de 500 mil pessoas já vivenciaram a magia proporcionada por essa montagem inesquecível.

Dividido em dois atos, “O Quebra Nozes” conta a história de Clara, uma menina que, na noite de Natal, recebe vários presentes, mas se encanta especialmente por um boneco quebra-nozes, presente de seu tio. Ao adormecer, Clara sonha com um mundo mágico, onde brinquedos ganham vida, dançam e lutam batalhas épicas. Ela é conduzida ao encantador Reino das Neves e ao deslumbrante Reino dos Doces, onde é homenageada com danças típicas de vários países, culminando no deslumbrante pas-de-deux da Fada Açucarada.

Nesta temporada, a Cisne Negro tem a honra em contar, mais uma vez,  com a presença de ilustres personalidades brasileiras que construíram carreira internacional. Os solistas convidados da temporada provenientes de renomadas companhias da Alemanha são Aurora Dickie , Solista do Staatsballett Berlin e Rafael Vedra, Solista do Ballett am Rhein, Düsseldorf , enriquecendo ainda mais a experiência. Além deles, o ator Felipe Carvalhido retorna ao papel de Drosselmeyer, tio enigmático de Clara, completando 17 anos nessa interpretação. O Circo Escola Picadeiro ficará responsável pelos efeitos especiais, e os espectadores serão surpreendidos por novos cenários, cuidadosamente elaborados para intensificar a imersão e o encantamento da narrativa. Sob a direção artística de Dany Bittencourt, a montagem promete manter a essência que torna “O Quebra Nozes” um espetáculo atemporal, trazendo inovações que elevam ainda mais a experiência. Sempre em atualização, a temporada tem entre suas novidades a estreia de novo cenário, que emerge o público no sonho de Clara. A venda de ingressos já está disponível,  exclusivamente pelo Fever, com ingresso a partir de R$ 21,18.

O espetáculo conta com o patrocínio da Natura, multinacional brasileira de cosméticos e dona de marcas icônicas como Ekos, Tododia, Kaiak, Essencial, entre outras.

REALIZAÇÃO: Ministério da Cultura – Governo Federal – Brasil – União e Reconstrução

Sobre a Natura

Fundada em 1969, a Natura é uma multinacional brasileira de higiene e cosmética. Conta com 2 milhões de consultoras na América Latina, sendo líder no setor de venda direta no Brasil. Faz parte de Natura &Co, resultado da combinação entre as marcas Avon e Natura. A Natura foi a primeira companhia de capital aberto a receber a certificação de empresa B no mundo, em dezembro de 2014, o que reforça sua atuação transparente e sustentável nos aspectos social, ambiental e econômico. É também a primeira empresa brasileira a conquistar o selo “The Leaping Bunny”, concedido pela organização de proteção animal Cruelty Free International, em 2018, que atesta o compromisso da empresa com a não realização de testes em animais de seus produtos ou ingredientes. Com operações na Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, México, Peru e Malásia, os produtos da marca Natura podem ser adquiridos com as Consultoras, por meio do e-commerce, app Natura, nas lojas próprias ou nas franquias “Aqui tem Natura”. Para mais informações, visite www.natura.com.br ou acesse os perfis da empresa nas redes sociais: LinkedIn, Facebook e Instagram.

Sobre a Cisne Negro Cia de Dança

Fundada em 1977 por Hulda Bittencourt, a Cisne Negro Cia de Dança é uma das mais renomadas companhias de dança contemporânea do Brasil. Com quase cinco décadas de história, a companhia é reconhecida pela inovação artística, técnica apurada e um repertório diversificado que abrange clássicos do balé e criações contemporâneas. A Cisne Negro tem se destacado tanto em palcos nacionais quanto internacionais, representando o Brasil em importantes festivais e turnês em países como Alemanha, Estados Unidos, China, Africa do Sul, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Escócia, Espanha, Inglaterra, Moçambique, Paraguai, Romênia, Tailândia e Uruguai, onde o grupo exibiu-se como um modelo de trabalho dentro da dança brasileira, construído com profissionalismo e paixão.

A companhia é conhecida por suas montagens criativas, incluindo a tradicional temporada de ‘O Quebra Nozes’, realizada anualmente, que se tornou um marco na cena cultural brasileira. Com uma equipe de talentosos bailarinos e sob a direção artística de Dany Bittencourt, a Cisne Negro continua a encantar e desafiar plateias ao explorar novos horizontes na dança.

A Cisne Negro Cia de Dança tem em seus valores a inclusão e está sempre atenta à acessibilidade do público, buscando garantir que sua arte seja apreciada por todos. Com um compromisso inabalável com a excelência e a promoção da arte, a companhia segue firme em sua missão de transformar e enriquecer a vida cultural através da dança.

 

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Cultura

Projeto “Fafá de Belém, o Musical”

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Considerando que o melhor antídoto para a desinformação é a informação clara e pública e em vista de comentários de pessoas pouco esclarecidas e/ou mal informadas terem sido disseminados nos últimos dias, informamos que:

O projeto “Fafá de Belém, o Musical” é uma realização da CharGe Produções e Promoções Artísticas em parceria com a Fato Produções Artísticas, que visa homenagear a grande artista Fafá de Belém, com um espetáculo de Teatro Musical que tem como base sua vida e obra.

O valor aprovado para captação na Lei Nacional de Incentivo à Cultura é destinado à produção deste espetáculo, envolvendo dezenas de profissionais (artistas e técnicos) em um processo que dura diversos meses, com etapas de montagem e circulação por três capitais de estados de três regiões do país. São aproximadamente 300 empregos gerados direta e indiretamente.

O único pagamento que a cantora Fafá de Belém receberá por este projeto é a homenagem em si, o reconhecimento pelos seus honrados e importantíssimos 50 anos de carreira!

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Cultura

2º Festival do Kimchi terá muito K-Pop, K-Drama e programação cultural com diversas atrações

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Evento gratuito com exposição sobre o prato coreano, terá shows, feira gastronômica e comemoração do Dia Internacional do K-Drama

Dia 23 de novembro vai acontecer o 2º Festival do Kimchi e a Comemoração do Dia Internacional do K-Drama, das 10h às 18h, na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro, no centro de São Paulo. O Dia do Kimchi foi instituído pelo Projeto de Lei n 443/22 de autoria do vereador Aurélio Nomura e 22 de novembro marca a sua data no calendário oficial da cidade de São Paulo.

Além conferir a história e uma exposição sobre o Kimchi, prato mais famoso da gastronomia sul-coreana, o público irá conferir muita música e dança e saborear comidas típicas na feira gastronômica.

Na programação, apresentações de Grupos Musicais, de Dança Tradicional Coreana e de vários Grupos de K-Pop Cover, além de debates e muito conteúdo sobre K-Drama, oficinas e várias atividades para promover uma imersão dos visitantes na cultura sul-coreana.

 2º FESTIVAL DO KIMCHI E DIA INTERNACIONAL DO K-DRAMA

Data: 23 de novembro

Horário: das 10h às 18h

Local: Praça Coronel Fernando Prestes s/n – Praça Tiradentes – Bom Retiro – Centro – SP

EVENTO GRATUITO

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